sábado, 12 de dezembro de 2015

Erebos: O Jogo da Morte

Já imaginou um jogo que interage em tempo real com o jogador, respondendo perguntas, procurando respostas, que sabe cada passo seu, monitorando-o "quase" o tempo todo? Erebos (O Jogo da Morte, no Brasil), de Ursula Poznanski, nos dá uma ideia de como isso seria.

"Em uma escola nos arredores de Londres, começa a circular um misterioso objeto de forma bastante sutil. Ninguém comenta a respeito e os alunos começam a ficar um tanto misteriosos, faltando frequentemente as aulas ou aparecendo na escola com cara de quem não dormiu muito. Nick consegue uma cópia e descobre que o misterioso objeto é um jogo de computador: Erebos. As regras do jogo são bem rígidas e quem as viola é eliminado, sem poder voltar a jogar. A partir daí, Nick e Sarius começam a vivenciar o que todos os que jogam Erebos passam, com desafios bastante peculiares, mesclando ficção e realidade."

A trama parece simples, e de fato é, mas é mais do que parece ser. Os protagonistas da história são Nick e Sarius. De início, somos apresentados a Nick e, como ele, não temos muita noção do que está acontecendo na escola. Assim, a autora vai nos inserindo na trama de forma natural, nos envolvendo aos poucos e criando toda a atmosfera. Ela faz isso muito bem e nem percebemos, até que não conseguimos mais largar o livro.
Ele procurou na área de trabalho o ícone do Erebos, um simples E amarelo, e clicou sobre ele. Por uma fração de segundos o cursor se transformou em uma ampulheta, assumindo depois sua forma normal. E foi tudo.
Erebos é um jogo que está bombando, mas que, ao mesmo tempo, ninguém fala dele. As regras são simples e devem ser cumpridas, senão é morte certa. Dentre elas, não se pode falar sobre o jogo com quem não joga; as conversas entre os jogadores devem acontecer apenas quando uma fogueira estiver acesa; nunca contar o nome de seu personagem fora do jogo e nunca mencionar seu nome durante a jogatina; deve-se jogar sempre sozinho, em um computador pessoal; os desafios devem ser cumpridos, senão o jogador é punido, inclusive com a eliminação; quem sair do jogo não pode mais jogá-lo.
Devido a estas regras, muitas dúvidas surgem. Ficamos curiosos para saber que personagem da realidade controla quem no jogo. Quem será Colin? Ou BloodWork? Sapujapu? Algumas perguntas que levantamos durante a leitura, são levantadas também por Nick, e isto nos aproxima mais, criando uma empatia pelo personagem. Essas regras, também, são responsáveis por algumas passagens bem bacanas.
Os fatos se sucedem entre os acontecimentos do jogo e da vida real. Os desafios impostos pelo game brincam com quem está jogando, organizando atividades que exigem coragem para se realizar e que bloqueiam o jogo, caso não se realizem, obrigando o jogador a realizá-la para continuar no game. E se você não realizar uma atividade, o jogo saberá que você não a cumpriu. ~~tenso~~ Podemos fazer uma analogia entre este aspecto e o que vivenciamos hoje em dia, com grandes empresas sabendo muito mais da vida das pessoas, do que elas próprias, dando a sensação de estarmos sempre sendo vigiados. É algo a se pensar, hein!

- [...] "E como é estar morto?".
-"É solitário. Ou cheio de fantasmas. Quem é que vai poder dizer? [...] Se eu lhe perguntasse 'Como é estar vivo?', o que você responderia? 'Cada um vive de sua maneira'. Da mesma forma, cada um tem sua própria morte. [...] Sem dúvida, você vai saber um dia como é.".

Os personagens da trama não são muito aprofundados. Acredito que a autora optou por isto, para tornar a leitura mais fluída e criar uma espécie de jogo de videogame em forma de palavras, prendendo o leitor e criando a sensação de estarmos realmente dentro do jogo. Este é um dos pontos mais bacanas da história, pois o leitor fica imerso na história, como se estivesse jogando ao ler O Jogo da Morte, ou, pelo menos, ter a sensação de estar assistindo alguém jogar. Apesar de personagens rasos, o desenvolvimento deles é linear. Todos evoluem juntos. Por Nick ser o personagem central, recebe mais atenção e cuidado, contudo, Jamie, Emily, Adrian, Brynne e os demais são tão bem tratados quanto ele. E é através de Nick, inclusive, que somos apresentados a Sarius e é aí que a imersão no MMORPG se faz. Os personagens vão sendo inseridos na medida necessária para o desenvolvimento da história. Todos cumprem seu papel, por menor que ele seja.
Em relação aos cenários, são bem descritos, porém sem muitos detalhes, mas que permitem nos transportar para dentro dos acontecimentos e vivenciar tudo aquilo com imagens nítidas na imaginação.
Com um final bem interessante, desvendando os grandes mistérios do jogo, e levando à uma situação que já esperávamos, da metade para o final do livro, Poznanski conclui sua obra muito bem. Nenhuma pergunta fica sem resposta, em uma história com início, meio e fim bem definidos e amarrados.

- Eu quase sempre estou com o regulamento, veja, aqui diz: "Você pode falar com os jogadores junto às fogueiras, quando estiver jogando.". Ela pegou um isqueiro, e fez a pequena chama surgir.

Apesar dos problemas de edição, que aumentam conforme a história vai terminando, é um livro bacana, um entretenimento muito bom, que diverte do início ao fim.
O Jogo da Morte, de Ursula Poznanski, ganhou o prêmio Youth Literature Award da Alemanha em 2011, com uma trama que envolve jogos de videogames, mistério e aventura, recomendado para quem gosta de uma história bem desenvolvida, criativa e divertida.



Créditos
Texto: Bruno Bolner
Revisão e Imagens: Juninho Lima
Este texto foi escrito originalmente para o site Co-op GeeksClique aqui para ir à publicação original.

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